Aline Esashika tem 29 anos, é psicóloga, casada com Leonardo Penha, também de 29 anos. São pais do Vinícius Leone Penha, de 4 anos.
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Conheci a Aline por conta do blog, ela é uma mamãe super internauta, estuda sobre tecnologias da informação e, enfim, trocamos algumas conversas depois que ela se tornou leitora assídua e incentivadora dos comentários, uma graça de companheira aqui desse projeto virtual. Coincidentemente também frequentamos alguns lugares em comum. Recentemente marcamos um café para realizar essa entrevista.
Percebi na Aline um perfil interessante. É estudiosa, dedicada em buscar conhecimentos sobre educação para aprimorar os desafios com o filho. Sempre que li seus comentários e a ouvi, senti que a convidaria para uma entrevista. Chegou o dia. Que alegria, Aline, muito obrigada.
Vejam que interessante. A mamãe Aline proporcionou uma entrevista com um tema que eu ainda não tinha abordado. Bom demais.
Durante as entrevistas que proponho para o blog, para minhas convidadas, faço questão de deixá-las muito à vontade sobre o tema. Pergunto se teriam algo bacana para compartilhar, uma história para relatar ou dúvidas que gostariam de trocar ideias, Com a Aline, não foi diferente. Perguntei o que ela achava que teria para dividir com o blog. De forma bastante direta, comentou: “no carro, antes de chegar até esse nosso encontro, vim pensando em algum tema. Veio na minha cabeça uma aprendizagem que adquiri em Goiânia e que procuro aplicar. Atualmente vejo alguns resultados bastante positivos com meu filho por conta dessa aprendizagem. Creio que falar sobre sentimentos é algo interessante. O que você acha?”
É claro, na mesma hora fiquei muito interessada, achei o assunto ótimo!
Ela é de Goiânia, onde morou vários anos antes de mudar-se para Cuiabá. Naquela cidade frequentava um grupo de terapia, com várias mães. Nos encontros desse grupo surgiam assuntos diversos, as mães comentavam entre si uma observação em comum: em grande parte dos encontros, sempre havia muito choro, as pessoas expressavam suas dores e sofrimentos. Os encontros eram excelentes, mas em todas as reuniões, ou, em sua grande maioria, o trabalho girava em torno das temáticas das dores e sofrimentos.
Ao refletirem sobre isso, começaram a trocar ideias de como seria importante trabalhar com os filhos a questão dos sentimentos. Elas percebiam que muitas dores e angústias tinham origem em uma educação que foi baseada em engolir o choro e não em aprender a lidar com isso. Começaram a trocar sugestões e passaram a valorizar com os filhos a importância de viverem os sentimentos, de aprenderem a lidar com choro, dor, raiva, assim como os demais sentimentos.
Dessa forma, desde que seu filho pequeno nasceu, Aline sempre procurou colocar em prática essa aprendizagem que tinha vivenciado em Goiânia. Ao conversar com seu filho Vinícius nos momentos de choro, de raiva, dor ou tristeza, ela tinha o cuidado de proporcionar o
exercício da vivência do sentimento.
Durante a entrevista, Aline falou que sempre achou natural fazer as crianças pararem de chorar. Achava que com seu filho, não seria diferente, pensou que quando o visse chorando, faria uma brincadeira ou algo do tipo para desviar a atenção e acabar com o momento. Pensava que assim estaria ajudando-o. Porém, desde que compreendeu a importância de
não engolir o choro e sim vivê-lo da melhor forma, ela se preparou interiormente para possibilitar ao filho a compreensão dos sentimentos. Ela disse: “Quero que meu filho reconheça seus próprios sentimentos. Isso será bom para a vida dele. Não quero fazê-lo parar de chorar, simplesmente para engolir o choro”.
Querem conhecer um exemplo prático compartilhado pela Aline? Ilustra muito bem o resultado positivo desse tipo de postura com os filhos.
Hoje o filho dela já tem 4 anos, mas a Aline conta que a primeira vez que viu resultado sobre a vivência dos sentimentos, foi no momento da retirada da chupeta. Seu pequeno tinha dois anos e 9 meses. Fizeram todo um trabalho antes do dia oficial da despedida da chupeta. No Natal ele doou a chupeta. Como ela havia conversado bastante com ele sobre esse momento, tudo foi razoavelmente tranquilo. Ele entregou a chupeta, mas, na hora de dormir, à noite, pronto, veio a tristeza e ele se deu conta de que doar a chupeta seria realmente ficar sem ela naquele momento, de verdade. Ele chorou bastante, deitou na cama em posição fetal, todo enrolado, muito triste, chorando bastante. Quando viu a mãe perto dele, disse: “quero ficar sozinho com a tristeza”. Claro que na época as palavras não eram pronunciadas todas com perfeição, mas ele disse a frase, do jeito dele.
Aline lembra que ficou com o coração apertado ao ver o sofrimento do filho, mas ao mesmo tempo, pela primeira vez, percebeu que
estava dando certo o seu investimento sobre o sentimento. Ela sempre verbalizava para ele que a tristeza é algo que passa, dizia para ele que podia chorar, sentir a tristeza, e depois ela sumiria. No caso da chupeta foi exatamente o que ele fez e até verbalizou para ela, explicando que queria ficar sozinho com a tristeza. Foi o que ele fez, o choro durou bastante. Ele soube passar pelo momento de forma equilibrada. No outro dia tudo foi tranquilo e, pronto, a retirada da chupeta não foi tão trabalhosa e ele soube
colocar em prática o exercício do sentimento.
Serviu de resposta positiva para a mamãe Aline, que desde então não se esqueceu mais sobre a importância desse tipo de educação: saber vivenciar os sentimentos, ensinar aos filhos que é importante saber lidar com os diferentes sentimentos.
Afinal, para que nossos filhos tenham um EU maduro, que saibam se auto controlar e que busquem o equilíbrio, exercendo a resiliência, é fundamental que ao longo dos primeiros anos da infância e da adolescência, que nós, pais, possibilitemos essa construção, com paciência, sendo PERSISTENTES e FIRMES e dando BONS EXEMPLOS.
Como uma boa psicóloga, apenas em início de carreira, com um longo caminho de sucesso a percorrer, ela concluiu nossa entrevista assim:
“Hoje o Vinícius reage muito bem quando está triste ou bravo, entende o que sente e lida sozinho com isso, sem fazer birras, agredir as pessoas ou se comportar de forma inconveniente. Comprova que meu esforço está valendo a pena.”
E querem mais? Ela deixou uma dica incrível para quem quer um recurso de apoio para dialogar com os filhos a respeito dessa vivência de sentimentos: “sugiro o livro Menino Maluquinho, onde o personagem se isola no quarto quando bate a tristeza, e quando se sente melhor volta ao convívio normal com as pessoas da casa. É uma forma legal dos pais incentivarem as crianças a vivenciarem suas tristezas, de uma boa maneira”.
Gostaram leitores (as)?
À você Aline, querida, meu total agradecimento, primeiramente pelo privilégio de tê-la como leitora desse blog, sendo que nem nos conhecíamos. Agora, obrigada em dobro, porque foi um prazer aprender com você sobre a importância da vivência dos sentimentos.
Roberta Leal Pimentel – Blog Aprendizagem Humana